segunda-feira, 21 de maio de 2012

MEMÓRIAS DE GRAVATÁ


Por Eliezer de Andrade Santos

          Nasci em Gravatá no dia 11 de outubro de 1937, na rua Dr. Amaury de Medeiros (antiga rua da Boa Vista), bem ao lado do centro Espírita. A casa já não existe e hoje no local se vê um supermercado. Sou o primeiro de dois filhos de Manoel Inácio dos Santos e Ana de Andrade Santos. Em Gravatá estudei o primário na escola da saudosa professora Dona Sinhazinha; conclui a admissão no Instituto Batista, sob direção do saudoso pastor Rosalino da Costa Lima; estudei até o 2º ano no Ginásio Municipal, sob direção do saudoso padre José Lins de Moura; e prestei o serviço militar no Tiro de Guerra 166, sob o comando do então 1º sargento Liberalino Mendes de Lima.
            O decorrer de minha existência nesta cidade até os 19 anos, foi normal como qualquer adolescente, isto é, estudando, formando amigos, marcando ponto à noite em frente à loja de Avelino Medeiros, onde eram discutidos assuntos sobre cinema, música, futebol, e porque não dizer, alguns comentários sobre sexo oposto, onde tudo era tratado com decência e moralidade. Uns eram católicos, outros protestantes e todos desconheciam a promiscuidade e as drogas, mas conheciam o respeito. Havia o Cine Holanda com suas boas programações, e quem tinha alguns trocados e a carteirinha de estudante, entrava pagando “meia” para ver um famoso filme musical com Gene Kelly, Jane Russell, Bing Crosby e Ginger Rogers ou apreciar o sapateado de Fred Astaire. A época era também de muitas produções de filmes retratando a última Grande Guerra. Enfim, Gravatá não oferecia muito em questão de vida noturna, além do bar do saudoso Severino Cirílio, próximo ao cinema, muito amigo dos meus pais. Assim, os jovens daquela época com quem eu me relacionava, eram os irmãos Edvaldo e Edenilson Aleixo, Ramom Gonçalves, os irmãos Ivaldo Aragão e Ismael Aragão, Arnaldo Lucena, Ricardo Carvalho e muitos outros que não recordo o nome. Não havendo muitas opções, seguia cada um para os seus lares, completando o habitual trajeto sem receio de violências e agressões. Vivíamos felizes e tranquilos na pacífica Gravatá dos anos 50 administrada policialmente pelo valente e íntegro Tenente José Leão.
            Mas todo esse encanto terminou aos 20 anos, quando meus pais, com outra visão de futuro, começaram a se preocupar com o sucesso dos dois filhos e, em 1957, colocaram em suas cabeças que teriam que deixar Gravatá em busca de centros mais promissores. Venderam a única propriedade e embarcaram para o Recife. Não me demorei muito no Recife e logo segui para Paulo Afonso-BA para trabalhar na Chesf. Três anos depois, obtive transferência para o Recife, onde me casei, conclui o ginásio no Colégio Estadual; o clássico no Colégio Marista e direito na Faculdade de Direito do Recife. Ali, permaneci 18 anos, divorciei-me e segui para o Paraná em 1979. No Paraná, coincidentemente, encontrei-me com outro gravataense amigo de infância, Josivalter Vila Nova, médico cardiologista, já falecido, filho do comerciante José Vila Nova. Prestei serviços na Usina de Itaipu, advoguei durante oito anos e lecionei onze anos em uma Universidade Estadual do Paraná até me aposentar. Em 2005 fui convidado por um Desembargador amigo e nomeado eu assessor judiciário no Tribunal de Justiça do Paraná e hoje me acomodei na cidade de Foz do Iguaçu, fronteira com o Paraguai e Argentina.
            As razões deste relato resultam da minha recente visita ao Recife no último mês de março. Casado com uma paranaense, muito desejei vir ao Nordeste com ela e visitar minha cidade natal, rever muitos amigos e conhecer as belezas da nova Gravatá. Entrei na Casa da Cultura, conheci o funcionário Martins que me atendeu com diligência. Com ele, consegui os endereços dos professores Ismael, seu irmão Ivaldo e do jornalista Ricardo Carvalho. É impossível descrever a alegria de rever e conversar com estas criaturas. Já não pude ver a todos, seja porque alguns estão fora, seja porque outros já foram recolhidos à eternidade e isso nos traz tristeza como humanos. Com Ricardo, pude conhecer o seu sucesso jornalístico e recordar nomes de ilustrada figuras do nosso tempo, tais como, Pastor Rosalino, Padre Elias, Professor Antônio Farias, sua irmã Amenaide Farias, jornalista Alberto Frederico Lins e seu irmão Maninho, Júlio Gonçalves (Vilarim) com quem trabalhei na Cooperativa de Consumo, Valdemar Oliveira (Ioiô), com que trabalhei em seu cartório, Abílio Góis, Avelino Medeiros, Levi, jovem e cortês comerciante, Major José Leão e tantos outros que muito trabalharam pelo desenvolvimento da cidade.
            Mas, deixando de lado o passado e voltando ao presente, na minha prolongada conversa com o jornalista Ricardo Carvalho, tive o prazer de comentar sobre o desenvolvimento de uma cidadezinha que era lembrada apenas pelo bom clima e, após algumas décadas, atingiu um notável crescimento econômico e populacional.
            O Anuário dos Municípios de Pernambuco de 2011 atesta este indiscutível crescimento. Para uma população de 76.669 (18º), um eleitorado de 55.888; um PIB (2008) de R$ 346.266.000,00 (22º); uma receita global (2010) de R$ 78.619.464,50 (15º); um orçamento (2011) de R$ 126.012.000,00 (13º); crescimento da frota de veículos que ultrapassa os 17.205; crescimento dos estabelecimentos mercantis (2.155) etc.
            Dando algumas voltas com minha esposa, observamos grande número de condomínios de luxo em padrões europeus, lembrando as construções catarinenses. Largo desenvolvimento agropecuário, crescente mercado imobiliário, fabrico de móveis, artesanato e, em especial, a preocupação com o turismo. Observamos o grande número de profissionais liberais bem instalados. A culinária também nos impressionou com seus requintados restaurantes e pizzarias e excelente atendimento.
            Ah, Gravatá, da minha juventude que não mais existe! . Apenas as imortais recordações! . Mas a atual juventude gravataense não se engane: era uma vida de sacrifícios, de escassez, com pouco lazer, poucos empregos, dificuldades financeiras, embora abundasse a tranquilidade. De qualquer maneira, a vida tem que ser bem vivida, porque ela é mais importante do que o Direito. A violência é consequência do desenvolvimento desordenado e da conivência dos poderes públicos que deixaram a situação chegar nessa proporção permitindo que os delinquentes, amparados pela impunidade, alimentem a criminalidade. Meu conselho aos jovens gravataenses é de que busquem valores reais e não os inflados por homens e mulheres corruptos, imorais e sem Deus, que agem nos bastidores, impondo pessoas vazias e ocas, como medalhões. Busquem a integridade.
            Na verdade, não podemos escolher as crises, mas podemos escolher a maneira de como enfrentá-las. Gravatá, com sabedoria e tenacidade, se posicionou na boa escolha e, com lutas, encontrou o caminho da prosperidade. Vale dizer que a sua vitória bem se enquadra no provérbio popular: “Vencer sem lutar é triunfar sem glória”. De parabéns, portanto, a população gravataense, meus amados conterrâneos, que tem demonstrado um elevado espírito de lutas e de colaboração com os poderes públicos, visando um crescimento pleno e notório. Que Deus abençoe Gravatá! .