Por Eliezer de
Andrade Santos
Nasci em Gravatá no dia 11 de outubro de 1937, na rua
Dr. Amaury de Medeiros (antiga rua da Boa Vista), bem ao lado do centro
Espírita. A casa já não existe e hoje no local se vê um supermercado. Sou o
primeiro de dois filhos de Manoel Inácio dos Santos e Ana de Andrade Santos. Em
Gravatá estudei o primário na escola da saudosa professora Dona Sinhazinha;
conclui a admissão no Instituto Batista, sob direção do saudoso pastor Rosalino
da Costa Lima; estudei até o 2º ano no Ginásio Municipal, sob direção do
saudoso padre José Lins de Moura; e prestei o serviço militar no Tiro de Guerra
166, sob o comando do então 1º sargento Liberalino Mendes de Lima.
O
decorrer de minha existência nesta cidade até os 19 anos, foi normal como
qualquer adolescente, isto é, estudando, formando amigos, marcando ponto à
noite em frente à loja de Avelino Medeiros, onde eram discutidos assuntos sobre
cinema, música, futebol, e porque não dizer, alguns comentários sobre sexo
oposto, onde tudo era tratado com decência e moralidade. Uns eram católicos,
outros protestantes e todos desconheciam a promiscuidade e as drogas, mas
conheciam o respeito. Havia o Cine Holanda com suas boas programações, e quem
tinha alguns trocados e a carteirinha de estudante, entrava pagando “meia” para
ver um famoso filme musical com Gene Kelly, Jane Russell, Bing Crosby e Ginger
Rogers ou apreciar o sapateado de Fred Astaire. A época era também de muitas
produções de filmes retratando a última Grande Guerra. Enfim, Gravatá não
oferecia muito em questão de vida noturna, além do bar do saudoso Severino
Cirílio, próximo ao cinema, muito amigo dos meus pais. Assim, os jovens daquela
época com quem eu me relacionava, eram os irmãos Edvaldo e Edenilson Aleixo,
Ramom Gonçalves, os irmãos Ivaldo Aragão e Ismael Aragão, Arnaldo Lucena,
Ricardo Carvalho e muitos outros que não recordo o nome. Não havendo muitas
opções, seguia cada um para os seus lares, completando o habitual trajeto sem
receio de violências e agressões. Vivíamos felizes e tranquilos na pacífica
Gravatá dos anos 50 administrada policialmente pelo valente e íntegro Tenente
José Leão.
Mas
todo esse encanto terminou aos 20 anos, quando meus pais, com outra visão de
futuro, começaram a se preocupar com o sucesso dos dois filhos e, em 1957,
colocaram em suas cabeças que teriam que deixar Gravatá em busca de centros
mais promissores. Venderam a única propriedade e embarcaram para o Recife. Não
me demorei muito no Recife e logo segui para Paulo Afonso-BA para trabalhar na
Chesf. Três anos depois, obtive transferência para o Recife, onde me casei,
conclui o ginásio no Colégio Estadual; o clássico no Colégio Marista e direito
na Faculdade de Direito do Recife. Ali, permaneci 18 anos, divorciei-me e segui
para o Paraná em 1979. No Paraná, coincidentemente, encontrei-me com outro
gravataense amigo de infância, Josivalter Vila Nova, médico cardiologista, já
falecido, filho do comerciante José Vila Nova. Prestei serviços na Usina de
Itaipu, advoguei durante oito anos e lecionei onze anos em uma Universidade
Estadual do Paraná até me aposentar. Em 2005 fui convidado por um Desembargador
amigo e nomeado eu assessor judiciário no Tribunal de Justiça do Paraná e hoje
me acomodei na cidade de Foz do Iguaçu, fronteira com o Paraguai e Argentina.
As
razões deste relato resultam da minha recente visita ao Recife no último mês de
março. Casado com uma paranaense, muito desejei vir ao Nordeste com ela e
visitar minha cidade natal, rever muitos amigos e conhecer as belezas da nova
Gravatá. Entrei na Casa da Cultura, conheci o funcionário Martins que me
atendeu com diligência. Com ele, consegui os endereços dos professores Ismael,
seu irmão Ivaldo e do jornalista Ricardo Carvalho. É impossível descrever a
alegria de rever e conversar com estas criaturas. Já não pude ver a todos, seja
porque alguns estão fora, seja porque outros já foram recolhidos à eternidade e
isso nos traz tristeza como humanos. Com Ricardo, pude conhecer o seu sucesso
jornalístico e recordar nomes de ilustrada figuras do nosso tempo, tais como,
Pastor Rosalino, Padre Elias, Professor Antônio Farias, sua irmã Amenaide
Farias, jornalista Alberto Frederico Lins e seu irmão Maninho, Júlio Gonçalves
(Vilarim) com quem trabalhei na Cooperativa de Consumo, Valdemar Oliveira
(Ioiô), com que trabalhei em seu cartório, Abílio Góis, Avelino Medeiros, Levi,
jovem e cortês comerciante, Major José Leão e tantos outros que muito
trabalharam pelo desenvolvimento da cidade.
Mas,
deixando de lado o passado e voltando ao presente, na minha prolongada conversa
com o jornalista Ricardo Carvalho, tive o prazer de comentar sobre o
desenvolvimento de uma cidadezinha que era lembrada apenas pelo bom clima e,
após algumas décadas, atingiu um notável crescimento econômico e populacional.
O
Anuário dos Municípios de Pernambuco de 2011 atesta este indiscutível
crescimento. Para uma população de 76.669 (18º), um eleitorado de 55.888; um
PIB (2008) de R$ 346.266.000,00 (22º); uma receita global (2010) de R$
78.619.464,50 (15º); um orçamento (2011) de R$ 126.012.000,00 (13º);
crescimento da frota de veículos que ultrapassa os 17.205; crescimento dos
estabelecimentos mercantis (2.155) etc.
Dando
algumas voltas com minha esposa, observamos grande número de condomínios de
luxo em padrões europeus, lembrando as construções catarinenses. Largo
desenvolvimento agropecuário, crescente mercado imobiliário, fabrico de móveis,
artesanato e, em especial, a preocupação com o turismo. Observamos o grande
número de profissionais liberais bem instalados. A culinária também nos
impressionou com seus requintados restaurantes e pizzarias e excelente
atendimento.
Ah,
Gravatá, da minha juventude que não mais existe! . Apenas as imortais
recordações! . Mas a atual juventude gravataense não se engane: era uma vida de
sacrifícios, de escassez, com pouco lazer, poucos empregos, dificuldades
financeiras, embora abundasse a tranquilidade. De qualquer maneira, a vida tem
que ser bem vivida, porque ela é mais importante do que o Direito. A violência
é consequência do desenvolvimento desordenado e da conivência dos poderes
públicos que deixaram a situação chegar nessa proporção permitindo que os
delinquentes, amparados pela impunidade, alimentem a criminalidade. Meu
conselho aos jovens gravataenses é de que busquem valores reais e não os
inflados por homens e mulheres corruptos, imorais e sem Deus, que agem nos
bastidores, impondo pessoas vazias e ocas, como medalhões. Busquem a
integridade.
Na
verdade, não podemos escolher as crises, mas podemos escolher a maneira de como
enfrentá-las. Gravatá, com sabedoria e tenacidade, se posicionou na boa escolha
e, com lutas, encontrou o caminho da prosperidade. Vale dizer que a sua vitória
bem se enquadra no provérbio popular: “Vencer
sem lutar é triunfar sem glória”. De parabéns, portanto, a população
gravataense, meus amados conterrâneos, que tem demonstrado um elevado espírito
de lutas e de colaboração com os poderes públicos, visando um crescimento pleno
e notório. Que Deus abençoe Gravatá! .