terça-feira, 17 de maio de 2011

ENTREVISTA COM O CASAL FERNANDO DE ARAÚJO E LUCIANA SOARES DE CARVALHO SOBRE SUAS IMPRESSÕES DA EUROPA

Na foto, o casal Fernando e Luciana na Piazza San Marco, em Veneza, na Itália


O casal Fernando de Araújo e Luciana Soares de Carvalho passou o mês de Dezembro de 2010 percorrendo alguns países da Europa. Há sempre uma curiosidade ao entrevistar pessoas que saem do Brasil e voltam. Por isso, fiz a eles algumas perguntas:

1– Qual a curiosidade de vocês ao visitar alguns países da Europa?

R-Tivemos em especial a curiosidade de saber sobre a cultura do povo de cada país. É muito rico o contato com culturas diversificadas, pois ampliamos nossa visão para considerar e acolher formas de comportamento e manifestações de expressão até então desconhecidas. É um convite a abrir mão de paradigmas rígidos e a compreender mais o ser humano como um cidadão do mundo. Em todos os países que estivemos (Portugal, Espanha, Itália, França, Inglaterra e Escócia) procuramos lançar este olhar para apreender aspectos relevantes desta diversidade.

2 – Entre os países que visitaram qual o que lhes despertou mais curiosidade?

R- A Inglaterra foi surpreendente. Sentimos um acolhimento grande neste país. A gentileza e boa vontade em nos ajudar a localizar os lugares que queríamos visitar, a forma cordata de nos tratarem e a disposição para nos acompanhar até onde ficássemos seguros de que saberíamos chegar ao destino pretendido nos despertaram grande curiosidade em relação aquele povo, conhecido como tão rígido, mas que se nos apresentava tão solícito.

3 – Entre o Brasil e a Europa qual a diferença que observaram, seja no aspecto social, cultural e econômico?

R- Alguns aspectos nos chamaram bastante atenção ao compararmos a realidade brasileira com a européia: há um número infinitamente menor de mendigos que no Brasil e os que existem, apenas se identificam como tal por conta da caixinha onde são depositadas as moedas, pois , vestem-se bem e não raro estão lendo um livro. Também um aspecto muito interessante é a atuação da polícia que é bastante rápida, e a segurança pública que não tem comparação com a do nosso Brasil. Ao contrário da permanente tensão que vivemos aqui no Brasil, na Europa, na maioria das vezes, os recepcionistas dos hotéis riam quando nós perguntávamos acerca do perigo de voltarmos à noite. Ficávamos bem mais tranqüilos com nossa segurança do que aqui no Brasil. A única coisa que tínhamos que ter cuidado era com os pickpockets que são os batedores de carteira que muitas vezes se aproximam brincando com o turista e, sem que sequer se perceba, levam seus pertences. Não fomos vítimas, pois, já avisados por amigos sobre o perigo, fomos bastante diligentes.

Quanto ao aspecto cultural, nota-se que de forma geral o europeu é mais fechado que o brasileiro. Um outro ponto interessante é a freqüência com que vimos os europeus lendo livros. Sempre no metrô ou trem, várias pessoas estavam lendo. Até mendigos, como já foi dito, ocupam-se da leitura. Um hábito que infelizmente não tem grande espaço no nosso país. Também nos chamou a atenção o grande número de artistas, de vários lugares do mundo, que encontramos no metrô ou nas praças de toda a Europa cantando, tocando, fazendo algum número em troca de algumas moedas. Este tipo de sustento entre os imigrantes é bem mais freqüente do que vimos aqui no Brasil.

4 – Qual o tratamento que os europeus dispensam aos brasileiros?

R- Como turistas fomos bem tratados. Percebemos, entretanto, que algumas vezes há preconceito na forma de tratamento deles em relação a brasileiros que vivem lá.

5 – É verdade que os franceses são mal humorados, evitando dar informações aos brasileiros?

R- Os franceses têm uma cultura muito fechada. Estão normalmente sérios e isto choca um pouco o brasileiro acostumado com a forma festiva de se relacionar com os outros. Mas, com o passar do tempo, percebemos que é um aspecto cultural. De forma geral, não tivemos problemas com as informações. Normalmente eles nos orientavam bem.

6 – Sobre a Inglaterra, especificamente Londres, qual o tratamento que eles dispensam?

R- Londres, juntamente com Edimburgo, capital da Escócia, foram os locais em que fomos mais bem tratados. Um fato extremamente inusitado ocorreu na noite de natal, em Londres, quando os ingleses comemoravam em família e não havia transporte público nenhum (os metrôs e ônibus foram parados para que os motoristas e funcionários também comemorassem o Natal). Nas ruas só estavam os turistas, inclusive nós. Andamos cerca de 40 minutos explorando as ruas e praças de Londres e, quando já estávamos bem afastados do hotel, perguntamos a uma jovem senhora que saía com sua filha do jantar natalino na casa de familiares, como chegaríamos, a pé, às imediações do hotel. Quando demos as referências, qual não foi nossa surpresa, quando ela disse que estava muito longe e foi abrindo o seu carro para que ela nos levasse lá. Atônitos, aceitamos a carona (considerando que já estávamos há mais de 20 dias na Europa e tínhamos perdido aquele medo típico do brasileiro de pegar carona de estranhos). Comentamos inclusive com ela que, caso ela venha algum dia ao Brasil, jamais ofereça ou aceite carona! Ganhamos nossa noite de Natal com esta atitude de grande generosidade!

7 – Vocês estiveram também na Escócia. O que fizeram lá e qual a cultura desse país?

R- Na Escócia passamos rapidamente por Edimburgo, sua capital, onde visitamos os castelos e nos encantamos com a beleza do lugar e com a simpatia de sua gente. Depois fomos conhecer uma ecovila no Norte da Escócia, onde se iniciaram as danças circulares (danças dos povos), por ser tema de nosso interesse. Passamos a virada do ano 2010/2011 com o povo escocês e percebemos o quanto eles são animados e celebram principalmente através de danças típicas. Foi uma experiência ímpar!

domingo, 1 de maio de 2011

Crônica - DESAFIOS DA IDADE

Flávio Tiné

DA MESMA FORMA QUE JÁ HOUVE AVANÇOS NO TRATAMENTO DADO A OUTRAS MINORIAS, O PRECONCEITO CONTRA O IDOSOS TENDE A ACABAR


Ao me aposentar com 36 anos de registro em carteira, sem considerar os trabalhos eventuais como balconista de farmácia e de tecidos, bilheteiro de cinema e datilógrafo de cartório de registro civil e da agência municipal de estatística (ninguém, então, se preocupava com a exploração do trabalho infantil), jamais imaginei que um dia voltaria a trabalhar.

Estava decidido. Filhos formados e casados, separação e divisão amigável dos poucos bens, sem exigência de pensão mensal – louvável e rara generosidade feminina -, dedicar-me-ia ao sonho de escrever livros, fechando o que manda a tradição de ter filhos e plantar uma árvore. Na verdade, já fizera um livro de poemas, com ênfase a sonetos imitando Vinicius de Moraes, e um relato sobre o trabalho de assessoria de imprensa no Hospital das Clínicas de São Paulo, intitulado Pois não, doutor!

Mais do que um trabalho, no entanto, tentava provar a mim mesmo que não era um inútil. Incomodava-me o silêncio, como em Ninguém Escreve ao Coronel, de Gabriel Garcia Marques.

Não esperava a reação das outras pessoas. Alguns diziam que já dera minha contribuição e deveria continuar desfrutando do conforto e do relax que a aposentadoria oferece. Falavam da dificuldade de chegar ao trabalho, marcar ponto, enfrentar chefia, cumprir tarefas, coisas, enfim, das quais já me livrara.

Faz sentido. Quem trabalhou ininterruptamente dos 10 aos 60 anos, nem sempre em condições ideais, respeitando normas trabalhistas, educando filhos e tentando demonstrar um estilo de vida compatível com o status quo vigente e, ainda por cima, sendo fiel às instituições a que serviu, tem o direito de usufruir as chamadas benesses da aposentadoria. É assim no mundo inteiro e está na lei.

No Brasil, principalmente, os aposentados são praticamente obrigados a continuar em atividade, de alguma forma, para suprir as necessidades elementares, já que os rendimentos proporcionados pela Previdência Social (20% da média dos 36 últimos salários) não permitem viver condignamente, salvo a hipótese de dispor de boas economias ou de contar com a ajuda da família.

Se não quiser entrar em depressão nem depender dos filhos, o trabalho traz também o benefício de manter-se em atividade, preservando habilidades manuais e intelectuais.

O inconveniente dos “conselhos” no cafezinho pode ser educadamente desprezado. Essa história de “você foi importante para a instituição”, logo emendado com “ foi e é”, soa claramente com outro sentido: “O que você está fazendo aqui, rapaz, vai pra casa ver televisão!”.

No trânsito é comum os mais jovens gritarem com os mais velhos, ordenando-lhes para sair da frente por estarem atrapalhando. Não consideram que, se os mais velhos têm alguma dificuldade para dirigir, com reflexos menos ágeis, têm mais cuidado nas manobras, até por ter medo.

Suponho que ainda não foram comparados às mulheres, que são premiadas com descontos na renovação de seguros, pelos cuidados ao dirigir.

Da mesma forma que já houve avanços no tratamento dado a outras minorias, o preconceito contra os idosos tende a acabar. Espero estar ainda um longevo funcional para festejar essa nova etapa da vida.

Nota

Flávio Tiné é gravataense ilustre, jornalista de peso. Colabora em vários jornais e Revistas do Brasil. Foi, também, redator de matérias quando exerceu jornalismo no Diário de Pernambuco. Também participou da Revista Realidade e exerceu, no Hospital do Coração em São Paulo, o cargo de Porta Voz da Imprensa.

Ricardo Carvalho